Sobre pedir permissão ao marido (somente em portugues)
Quem vê minha publicações no insta sem conhecer o meu temperamento deve achar que sou tipo aquela do 50 cores de cinza... 50 tipos de cinza...
tu entendeu.
Quem me conhece de verdade sabe bem que não recebo ordem de ninguém.
Mas quando era novinha gostosa eu pagava de objeto de um cara bem ciumento.
Afasta assedio moral, piada inconveniente e gente fdp dando em cima.
(imaginário claro, o cara existia na minha cabeça, ninguém do trabalho precisava conhecer)
O que a mulher tem que inventar pra afastar inseto né.
QUANDO ERA SOLTEIRA
Primeira moradia
Morei anos sozinha.
Vim para o Japão, fiquei um mês na casa dos meus pais.
Meus pais mudaram para o apartamento vago do mesmo prédio (num desses apato de madeira velha), e fizeram comprô pra eu continuar no apê que eles estavam.
Motivo: o senhorio não queria deixar vago até a sua filha vir morar ali.
Meus planos eram de morar num share house mobiliado.
Mas a realidade na época (nos anos 2010) era outra.
Eis a lista dos meus pertences na época:
- 1 geladeira de 85 litros, velha, ganhada do amigo do meu pai.
- um aquecedor velho ganhado da vizinha de baixo.
- uma cama velha, usada, que minha mãe comprou sem considerar minha coluna em Recycle Shop.
- um microondas que comprei negociando com a loja
- uma bicicleta que meu pai me deu. Daí ele usava feliz.
- E roupas que tinha trazido do Brasil, mais terno que comprei para trabalhar.
Pouco a pouco fui juntando o dinheiro e comprando um smartphone, uma mesa, boca de fogão, coisas de cozinha.
Mas até então, usava EMPRESTADA a cozinha dos meus pais para fazer a minha comida, e usava EMPRESTADA a máquina de lavar roupa. Pagava metade da conta de água e luz dos meus pais. E meu pai ainda ficava bravo se não fizesse comida pra eles também.
Segunda moradia
Eu morava no rei dos mukifos.
Morar no mesmo prédio que meus pais não era nada bom.
Primeiro porque a linha de trem parava de uma em uma hora, o aluguel não era barato, era longe da estação principal.
E já nessa época eu tinha um grande pertence que ocupava muito espaço:
UM GATO.
Se você mora, ou pensa em morar sozinho no Japão, não tenha animal de estimação.
Achar um senhorio que aceitasse gatos era algo impossível.
O dono da casa antiga queria aumentar o aluguel, e eu queria sair de lá.
E não podia largar o gato na rua né.
O lugar que finalmente achei, me fizeram escrever um certidão de ciência de tão velho que era (tinha mais de 60 anos sem reforma).
A porta principal era essas portas que usam no banheiro. Tive de dar uma reformada no cadeado porque destrancava se forçasse. A janela da cozinha não abria. O exaustor não funcionava de sujo. A cozinha tinha 2 metros quadrados. Não tinha onde estender roupas. O banheiro.... Meu Deus.... o banheiro. Acho que presidiário no Sertão brasileiro tem banheiro melhor que aquele. Não tinha onde deixar a bicicleta, e tinha que trazer pra dentro de casa se quisesse evitar furto. Tinha um puta morro.
Mas tinha um climatizador de ar que tirava (dizia que tirava) a umidade, aceitava gatos (depois de pagar 3 meses de luvas adiantados) e tinha um walking closet enorme. Dava pra usar duas estações de trem, e se acabava o trem, dava pra ir pra casa de taxi da estação principal de 1.000 yens ou menos.
Esse costume de "pedir permissão antes de sair sozinho" começou quando ainda namorávamos e eu comecei a morar nesse apato de madeira mal assombrada com monte de gente estranha morando por causa do meu Lorde Miau.
Tive de implorar para a dona me deixar morar lá pq ela achava que o seu imóvel não era lugar para mocinha.
Para ter noção, tive de eu mesma reformar o cadeado da porta de entrada que era mais fina que de banheiro velho e tinha cadeado de BOTAUM!
Isso mesmo, botão.
"Nossa, coisa do fututo".
Não, era coisa de banheiro de escritório.
Alguém desmaia lá dentro, você dá uns empurrão a porta abre.
Esse era a segurança da porta de entrada do apê.
Imagine numa casa onde somente bandido fudido moraria.
Sem contar que o apê ficava em cima de um morro cuja a única forma de chegar era passando em uma rua estreita e escura que dividia um terrenão de rico.
Daí o costume.
Graças a internet limitada 4G com muitos gigas.
Mandava mensagem no Line (whatts daqui) quando estava saindo do trabalho, e mandava qd chegava em casa.
Quando passava no mercado mandava menssagem e quando estava muito tarde ficava no telefone online.
Chegava em casa, deixava no viva-voz, mesmo que a gente não tinha nada pra falar, só pra dizer que tinha homem muito ciumento em casa.
(que na verdade morava uns 5 quilômetos)
Tudo isso pra dizer que sim, o macho não era imaginário.
E "morava na casa". Pelo menos a voz dele sempre estava presente na casa.
O costume ficou quando casamos.
E aumentou por conta do cartão de crédito.
Eu sou titular do cartão e marido é meu dependente.
O limite do cartão é o meu salário e todas as contas da casa que não seja imposto ou da parcela da casa saem dali. E eu que controlo sendo titular.
Daí a necessidade de PEDIR antes de COMPRAR.
Para praticidade do controle financeiro, pedimos um ao outro pelo aplicativo de mensagem para ficar o histórico do que foi comprado.
Todas as compras feitas no cartão vem imediatamente no meu e-mail do celular.
Se vier um aviso sem marido ter pedido permissão é porque tem algo de errado.
Essa coisa de pedir permissão pro marido (ou vice'versa)
é questão de boa comunicação.
Estamos casados para o bem para mal.
Somos parceiros para tudo que vier.
Não somos só uma mulher e um homem.
Somos um par, e parceiros.
E par não anda individual.
Isso não significa que a gente não respira sem o outro.
Vivemos num país onde a internet opera bem, em preço acessível.
Não temos desculpa para não mandar nem se quer um desenho no Line.