Sobre aborto no Japão




O maior causa de morte no Japão, é câncer.

Porque feto não é considerado cidadão. 
Logo, a Maior Causa de morte no Japão é câncer, mas dizem alguns que se feto fosse considerado cidadão, seria o aborto. 

O número de aborto foi problematizado praticamente após o mangá, que conta experiência de ex enfermeira que trabalhava em clínica ginecológica que realizava o procedimento, ficar bem famosa.  
Veja a matéria aqui:


O aborto é legalizado no Japão para gravidez de menos de 22 semanas desde 1996 com a Lei de proteção do corpo materno. 

Como motivo legal:

1. Se a continuação da gravidez acarreta em risco à saúde do corpo materno ou a situação financeira.
2. Se a gravidez ocorreu sob ameaças ou violência. 


Em regra o aborto induzido pode ser realizado até 22 semanas de gestação ou seja, até o 5 meses e meio, considerado o tempo em que não há mínima chance do feto sobreviver fora do útero. 
Porém a partir de 12 semanas surge a obrigatoriedade de entregar certidão de natimorto na prefeitura para devidos procedimentos cartorários. Tendo ainda em casos de gestação avançada, requerer junto a autorização para cremação do corpo do feto. O que acaba causando um tanto constrangimento para a mulher pois precisa lidar com burocracia no balcão da prefeitura. 

Por isso muitas mulheres resolvem a questão mais rápido possível. 

O procedimento para requerer é extremamente simples mas precisa pagar.
Lembrando que no Japão não existe sistema de saúde gratuita. 
Precisa de uns 200 mil ienes a 300 mil ienes. 
Precisa de internação, e não se não engano, o Shakai não cobre. 

O procedimento médico é realizado somente em clínicas ou hospitais, todas as pacientes recebem um questionário, como em qualquer consulta ginecológica.
No questionário deve responder qual o motivo da visita, se é gravidez, se é alguma suspeita de doença ginecológica, e se for gravidez, se deseja continuar com a gestação ou não. 

Quando me achei grávida, antes de ficar feliz por estar grávida, o médico perguntou se continuaria com a gestação. Eu fiquei assustada achando que tinha algo de errado no estado clínico, mas era pergunta de praxe mesmo, e o médico só tava seguindo o manual do procedimento.

Para o procedimento precisa primeiramente da autorização médica, e depois da assinatura no termo de consentimento do possível pai da criança. Lógico que em casos em que não tem como requerer essa assinatura, ainda dá pra realizar o procedimento, mas a paciente é persuadida pelo hospital a procurar/arrumar o parceiro pra assinar. Para casos de menores de idade (menores de 18 anos) quanto à lei não precisa de autorização dos pais, mas creio que não existe um hospital que aceite o tal procedimento em menores de 18 sem os pais presentes, por causa do risco. 

O procedimento médico é de risco. Da mesma forma que o parto, finalizar uma gravidez também tem riscos para a gestante, e para o hospital.


Da onde essa liberdade surge?

No Japão a educação sexual é extremamente pobre e ignorante. 
A maioria das pessoas transam sem camisinha e acredita que ejacular fora da vagina é contraceptivo suficiente, e vejo em comentários, blogs, até mangás listando o calendário do ciclo menstrual como uma forma de contraceptivo. O que é ridículo,  mas tem gente que acredita em dias não-férteis.

A noção popular sobre AIDS e DSTs é pior que a noção sobre gravidez. 
Tem gente que acha que é uma doença tratável com remédios e tá de boa. 

Para ter noção em total de mais de 10 anos morando no Japão, o UNICO lugar que ví propaganda de uso de camisinha para evitar DSTs, foi no 2-choume de Sinjuku, o famoso bairro repleta de bares e pubs para LGBT. 
Extremamente criticado por gerar preconceito, mas só ví por lá. 

Eu tenho medo só de pensar em número de aidéticos não descobertos que andam por aí nesse país.
E pasmem, fazem testes somente para mulheres em consulta regular no ginecologista. E para homens? Em exame periódico nunca ouvi falar. 

Outro fator. 

A lei de adoção nesse país é uma piada. 
É extremamente, atrasado, idiotamente dificílimo e atrasado. 
Culturalmente e juridicamente.
A última vez que ví um famoso adotando uma criança no Japão, era jogador milionário de baseball. E era americano. 
Mesmo assim, o jogador deu entrevista criticando a burocracia e só foi ao ar pois era ao vivo.


O que eu acho.

Eu acho que a população não tem educação. 
Não entende o que é criar uma criança.
E é uma sociedade machista. 

Eu não culpo os médicos pedirem assinatura do pai do feto. 
Só assim pra cara assumir os seus atos, pois a lei japonesa não prevê direito a pensão alimentícia, nem a obrigatoriedade do pai registrar a criança.
Mas a mãe precisa. 
E como fica gravidez na adolescência? Fica pra menina. 

A penalidade por estupro não é tão leve, mas a penalidade aos molestadores é levíssimo. Tanto que existe uma sentença dizendo que a adolescente não fugiu de casa, da casa do padrasto que estuprava, pois não quis. 
Estamos falando de século 21, não estou dando aula de história não. 

Prostituição é penalizada como crime. 
Mas não escuto casos de prostitutas indo presas. Porque onde tem oferta tem muita procura né. 

Mas veja, o país já proibiu o aborto. 
Em 1907, o aborto era criminalizado com pena de morte, para mulher e para o profissional. O motivo era de que precisava de força humana para as guerras que o Império estava a fazer nos países asiáticos. Quanto mais soldado, melhor.
O aborto foi somente legalizado em 1948 com influência da ideologia americana pós segunda guerra mundial. 
Era para garantir direitos a mulheres?
Não.
Era "Com o objetivo de prevenir o nascimento de descendentes problemáticos do ponto de vista eugênico (*) e ao mesmo tempo proteger a vida e a saúde materna."

(*) Nota: O termo "eugênico" refere-se à busca pela melhoria genética da população, um conceito relacionado à seleção de características desejáveis e à prevenção de características indesejáveis nas futuras gerações.

Que genética? A supremacia japonesa? Não.
De rico mesmo, gente de sangue azul. O país estava devastado pela guerra, não precisava de mais pobre. 

Tem muitos problemas para serem resolvidos. 

Nas palavras da Yukako Ohashi, ativista japonesa:

Nas "reuniões internas do governo" que levam as vozes dos envolvidos aos membros do parlamento, mencionar "SRHR" era considerado um tabu até alguns anos atrás. Isso se deveu à ampla disseminação, a partir de 2000, de uma "rejeição à educação sexual" em todo o país, bem como à questão da baixa taxa de natalidade. Também houve movimentos políticos que reduziram o apoio à escolha de não ter filhos.

No entanto, recentemente, sinto que houve uma mudança. Nas reuniões internas de 2 a 3 anos atrás, "SRHR" foi mencionado, principalmente por jovens. Na sociedade, mais pessoas, especialmente mulheres, estão levantando suas vozes sobre questões como a "pobreza menstrual" e o assédio sexual no transporte público.

Quando observamos "SRHR" de uma perspectiva mais ampla, trata-se de tomar decisões sobre nós mesmos, receber o apoio necessário para isso e agir diariamente com base nisso. Eu sinto esperança para o futuro ao ver esses tipos de movimentos acontecendo em vários lugares.


Sobre problematização do aborto e mulheres imigrantes:

Do seminário do Safe Abortion Day,

https://www.youtube.com/watch?v=0OTlNJT2h1I 

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