Sobre visto para trabalhar no Japão.

Muita gente no Brasil acha que se casar com um japonês(nesa) pode ir para o Japão trabalhar, ficar rico igual Donald Trump. (Quem sabe até presidente da república).

Bem, tudo é possível nesse mundo.

Mas não confunda nacionalidade com raça!


Antes de ler esse post, recomendo que leia primeiro este:

Sobre diferença de nacionalidade e naturalidade.




(...) Uma coisa é ter nacionalidade japonesa com direito de retirada do passaporte, RG, certidão de nascimento, com direito de voto, etc. Outra é ser descendente asiático.
(...)
"Todos que nasceram no Território Brasileiro, é brasileiro!"

Quaaaantas pessoas já vieram com história:

"Se eu casar com você, posso ir para o Japão trabalhar?"

Primeiro: Eu tenho direito de escolher cônjuges.
Segundo: Casar e receber dinheiro por isso só para dar o "green-card" como já foi assunto de novela, é crime.
Terceiro: Você precisa de um emprego para poder trabalhar.

Aqui vai uma lista dos absurdos que já ouvi. Ao vivo.
(de brasileiros e japoneses)


  • Você nasceu no Japão? Ah então você é japa! (a pessoa tem olhos azuis)
  • Se você casar com japonês, vira japonês? (muitos japoneses têm essa dúvida)
  • Se você casar com japonês, pode ir para o Japão né (depende se a pessoa for descendente não é tão simples) 
  • Vc é japa, como não fala japonês? (você é loiro, como não fala alemão?)

O que mais acho incrível é que num país formado por imigrantes como o Brasil, pode existir pessoas que acham que raça = nacionalidade.

Um negro não é necessariamente africano e um asiático não tem necessidade de ter olhos puxados e pele amarelada. Índia também fica na Asia né.

A descendência dita a raça, a cor de pele, cor dos olhos talvez. Mas não nos promete uma nacionalidade. Um é caso de biologia, outro é caso de política. 


Quem tem direito a visto?



Eu, filha de japoneses com dupla nacionalidade, pela influência da maravilhosa aula de Direito Internacional na faculdade, onde o professor dormia (ele foi despedido depois), achava, com base na lei e tudo de que eu teria de escolher uma nacionalidade após os 20 anos de idade.

Na verdade é com 22 anos de idade.
E diferentemente da nacionalidade americana, nem o Japão, tampouco o Brasil, tem regras quanto ao prazo para escolher entre as duas nacionalidades.

Logo, eu tenho 30 anos de idade com nacionalidade japonesa e com nacionalidade brasileira. Com passaporte do Brasil e outro do Japão.

Sendo uma japonesa, não preciso de visto para entrar no Japão, e sendo Brasileira não preciso de visto para entrar no Brasil.

Quem não tiver nacionalidade japonesa, precisa de visto. Para saber exatamente como requerer visto, veja aqui no site do consulado japonês no Brasil.



São 21 tipos de vistos diferentes.

A forma mais comum que um brasileiro sem descendência alguma de ir trabalhar no Japão, é achar essas "empreiteiras" da vida, pegar o número 1 ou 21, vir para o Japão, e depois trocar para o visto de curta duração "teijusha" e depois requerer o visto de permanência.
Nesse caso é indispensável a existência de promessa de trabalho no Japão para conseguir a carta de elegibilidade da futura empresa contratante.

Sem emprego prometido, precisa casar com um filho de japonês, neto de japonês, ou uma pessoa com visto permanente. QUE TENHA uma promessa de trabalho.
Já ouvi meus pais dizerem que "casar dá dor de cabeça", mas nunca que "casar te dá emprego".

OBS: Como consigo ir para o Japão?
Precisa poder conseguir tirar o passaporte. 
Que é o requisito indispensável para poder sair do país. 
Para isso, precisa de dinheiro para pagar a taxa na Polícia Federal, e não pode ter antecedentes criminais. 
Às vezes a pessoa esquece que é procurado nacionalmente, vai lá tirar o passaporte e acaba indo direto para o recolhimento. Acontece diariamente. 

Como eu consigo visto?



Tendo um emprego ou quem lhe sustente no Japão, é só entrar no site do consulado japonês no Brasil. E seguir a lista dos documentos necessários, e entregar no Departamento de Visto e cruzar os dedos.
Mas cuidado! Antes de requerer o visto, precisa requerer a expedição de passaporte na DPF - Delegacia da Polícia Federal. Pois no formulário para requerimento do visto pede o número de passaporte.

veja aqui a sua jurisdição

São 8 representantes diplomáticas e consulares do Japão espalhados pelo Brasil.


Como é o custo de vida no Japão?



Depende. 
Se você vai morar no meio das montanhas onde a maior atração da cidade é o mercado que fecha as 6 da tarde, provavelmente não vai gastar muito. 
E depende também das suas necessidades de sobrevivência. 
Como por exemplo, eu posso ficar uma semana comendo só broto de feijão, que é a verdura mais barata do mercado, mas não sobreviveria um dia sem internet banda larga. Meus pais, precisam comer algum tipo de carne uma vez ao dia e quase 1 kilo de arroz, a mais cara e gostosa possível feito em água mineral, e não sabem a diferença entre Google e Facebook. 

Cada um tem suas prioridades quanto a vida né. 

Mas basicamente falando, em qualquer lugar do país, precisa tirar por mês, no mínimo 160,000 yens no salário bruto. Se não tirar isso vai passar fome ou ter de viver às custas de outra pessoa. 

Em base nos mais baratos, vai precisar pagar:

Moradia    -     60,000 
Gás/ energia / água     -     10,000
Impostos (a partir do segundo ano)     -   14,000
Telefone (com a internet)     -     10,000
Previdência social     -     20,000 
Alimentação    -    50,000

Considerando que 100 yens custa uns 1 dollár. (sem considerar cotação)

Mais ou menos isso. Aliás, a previdência social aqui é o chamado Shakai Hoken, que a empresa arca com os 50%. Não o Komumin que deve ser pago por conta. 
Para saber o que é Shakai Hoken, veja esse link

Por horas vai precisar tirar no mínimo 1000 yens. 


O que é descendente afinal?


Num país multicultural como o Brasil, todo mundo é descendente de alguma raça, ou de pessoas de outro país. Somente indígenas são 100% made in Brazil. O resto veio da Europa, África, Ásia, ou Oceania. No Brasil existem descendentes portugueses, espanhóis, franceses, alemães, italianos, japoneses, chineses, coreanos, angolanos, nigerianos, moçambicanos, árabes e claro os indígenas. 

E todos os descendentes podem ter visto de país de origem dos seus ancestrais?

Não. 

Veja bem. 
Como expliquei no post do link inicial, (Sobre diferença de nacionalidade e naturalidade.) a nacionalidade ou o direito a visto não tem nada a ver com a sua raça. 
O Japão como a Itália, mandou muitos imigrantes para o Brasil no século 19 a início de século 20 até um pouco depois da segunda guerra mundial. Explicando em curto e grosso, por motivos econômicos do país era a forma mais rápida de dar um sumiço nos pobres e quem queria abandonar o país. 

Lógico que não era isso que falavam pra quem embarcava com a roupa do corpo nos navios. E não foi somente para o Brasil, foi para Peru, Bolívia e Argentina. Antes da América Latina, foi a vez do Havaii e Guam. É por isso que tinham nikkei no filme Pear Harbor. 
A economia cresceu bastante após os anos 70 e no final dos anos 80 a final dos anos 90, o Japão tava nadando em dinheiro. Naquela época todo mundo queria um video cassete made in Japan. Faltava mão de obra para as fábricas atender a demanda, e os políticos da época surgiram com a ideia brilhante de chamar de volta os pobres que despacharam para as Américas. Claro que somente os japoneses despachados não seriam suficientes. Então pensaram em filhos e netos daqueles que foram no início do século 20 que ainda viviam na América Latina. 
Mas a maioria desses "japoneses" não tinham nacionalidade japonesa. Como pode ter estudado nas aulas de história, escravos negros ou imigrantes italianos eram inicialmente enviados a fazendas e lavouras. Ou seja, no meio do nada. Não tinha consulado ou embaixada por perto para registrar como seus filhos para requerer a dupla nacionalidade, e esse tipo de coisa tem prazo.

Daí surgiu esse visto de "Filho de japonês", ou "neto de japonês". 

Para conseguir esse visto de descendente, precisa provar a sua origem. 
Não adianta ter cara de japonês. Esse olho puxado pode ser originário na China ou na Coréia né? 
O que precisa? Teste de DNA? Não. 
Precisa do "Koseki - documento cadastral de árvore genealógica" do pai ou do avó, e provar por meio de certidão de casamento e certidão de nascimento seu e dos pais. Daí é importante que o "japonês" em questão esteja vivo e lúcido e saiba o endereço cadastrado no Koseki para requerer o documento. 

Se não me engano podia requerer através de consulado. Mas hoje em dia as prefeituras japonesas publicam formulários (em japonês claro) nos seus sites para requerer o Koseki via correio.


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