Sobre Bullying no ambiente de trabalho no Japão

Sobre Bullying no ambiente de trabalho no Japão.

Primeiramente gostaria de deixar claro que o post é somente e tão somente sobre bullying ou Ijime, no ambiente de trabalho no Japão.
Assédio moral/sexual é outro assunto. É importante que não se misture o assédio com bullying.

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Pode ser que seja difícil perceber situações de bullying no ambiente de trabalho no Brasil, principalmente porque lá é comum separar as relações de trabalho da vida pessoal e não necessariamente fazer amizades no ambiente profissional. Atualmente, essa abordagem não é tão diferente no Japão.

A diferença crucial ocorre quando alguém é um "dekassegui" em um país que não é o de origem, especialmente se a pessoa não domina o idioma, não possui familiaridade com a cultura local, acesso a fontes de informação online ou familiares próximos para contar. Nessas situações, a vida acaba se concentrando no ambiente de trabalho. Portanto, os colegas de trabalho (que, no Brasil, talvez não fariam parte do mesmo círculo social) tornam-se os únicos amigos, âncoras e fontes de informação nas quais a pessoa acaba confiando sem verificar a veracidade dos fatos.

Muitos brasileiros que conheço e trabalham em fábricas têm uma tendência, quase no nível psicológico, de acreditar que os "japoneses" conspiram contra eles.

Vou explicar como funciona a mentalidade daqueles que trabalham em uma fábrica e como o bullying ocorre entre adultos. 

Com essas alterações, o texto está mais claro e fluente, respeitando as regras de escrita da língua portuguesa.

Como é formado a mão-de-obra de uma fábrica, siderúrgica, usina, indústria.   

Da mesma forma que é formado a mão-de-obra de uma construtora, são formados o pessoal do baixo calão de uma fábrica, mais conhecido como "gemba".
Tem o mesmo status de um pedreiro.
O "kanrisha", "tantousha", ou "líder", é o que se equivale a mestre de obras, e "koujouchou" é o que equivale à engenheiro.

Para entender melhor como funciona uma empresa,

A hierarquia organizacional

Chairman = Kaitchou
é o representante da empresa, o cargo mais alto que um funcionário pode chegar. Mas não se engane. Em Companhia de sociedade ilimitada, precisa de pelo menos 50% das ações da empresa para ditar regras.
Presidente ou CEO = Shachou
Em pequenas empresas, o próprio dono. Em grandes empresas, é o presidente executivo dos negócios da firma. Também é o representante oficial da firma.
Vice Presidente = Fuku-Shachou
É o substituto CEO. Algumas empresas não possuem esse cargo.
Diretor Gerente Sênior ou diretor administrativo = Senmu/ Joumu
São os braços direito do Presidente, muitas vezes são advogados ou economistas de renome. Seus cargos são tão importantes quanto ao de um presidente.
Diretor da Unidade/Setor = Butchou/Koujoutchou
É o chefe da Unidade ou Setor, o que dita regras dentro dessa unidade, e comanda tudo. Em exemplo de Setores, temos: Financiamento, Relação Interna, Administrativo, Vendas, Produção.
Vice Diretor = Jitchou/Fuku-koujoutchou
É o substituto do chefe.
Chefe do Departamento = Katchou/ Sagyou-tchou
Existem dentro de um Setor, vários departamentos, em exemplo de uma fábrica, é quem dita a forma do trabalho.
Secretário responsável = Kakaritchou/ Lider
É o líder do grupo menor.



Os cargos e setores aumentam conforme o volume da empresa. Mesmo que seja uma empresa pequena com 10 empregados, existe essa hierarquia. Quanto maior a empresa for, aumenta o número de setores e divisão de trabalho e inventam monte de cargo que nem a pessoa sabe direito em que patamar está sem olhar a árvore hierárquica.



É importante compreender que a mão de obra acessível não está restrita apenas aos brasileiros. É preferível que seja um japonês, mas na ausência deste, é fundamental que o indivíduo seja proficiente no idioma utilizado pela empresa contratante e pelo líder, conhecido como "sagyouchou", que é responsável pelo serviço.

Portanto, em uma empresa, independente de ser uma fábrica de fundição, reciclagem, montagem ou alimentos, nos setores de trabalho mecânico e de manuseio simples, é possível encontrar pessoas de diversas origens, como filipinos, indonésios, indianos, africanos, árabes, chineses, coreanos, vietnamitas, nepaleses e outros provenientes de 45 países do continente asiático. Estes estão no Japão como "dekasseguis", trabalhando e sustentando suas famílias em seus países de origem.

Ainda que sejam japoneses, muitos possuem níveis educacionais mais baixos. Aqueles com níveis mais elevados geralmente estão presentes por razões específicas.

Essas modificações visam aprimorar a clareza e a coerência do texto, bem como adequar o conteúdo à língua portuguesa, respeitando as regras gramaticais e a cultura japonesa.



Será realmente bullying?



Quando ouço histórias de pessoas que estão enfrentando Ijime dentro da fábrica, minha primeira reação é de desconfiança. Há muitas situações em que o bullying é real e isso afeta profundamente a autoestima e a motivação para trabalhar, levando a pessoa a se sentir deprimida e autodestrutiva. Seja por ser estrangeiro ou por ter um nível educacional mais baixo, muitas vezes esses indivíduos sentem que não têm outra opção de trabalho além do local em que estão atualmente. Portanto, é bastante evidente distinguir entre uma vítima de maus-tratos e alguém que busca se fazer de coitado.

Sempre procuro entender ambos os lados da situação. Muitas pessoas se aproximam de mim como amigos, mas não desenvolvo amizades no ambiente de trabalho. Todos são colegas de trabalho, iguais entre si. Como responsável pelo gerenciamento, é crucial para mim identificar quem está criando problemas nas relações. 

Diferente do ambiente escolar, o trabalho é um espaço para gerar lucro. Empregamos a mesma teoria de A Arte da Guerra de Sun Tsu no ambiente de trabalho. Negócios são construídos com base em estratégias, e não podemos permitir que os membros da equipe estejam em conflito. Precisamos identificar aqueles que possuem potencial para contribuir de maneira positiva, considerando fatores como tempo de serviço, habilidades (shikaku) e capacitação.

Naturalmente, o que mencionei acima é a minha perspectiva e a abordagem adotada pela empresa em que trabalho. É mais fácil avaliar dessa forma quando se trata do conceito de gemba e quando existem outros gembas para os quais o funcionário pode ser transferido. No contexto do escritório, aqueles com posições hierárquicas mais altas geralmente têm vantagem.

É verdade que existem muitos casos de ijime no ambiente de trabalho. No entanto, também é verdade que muitas pessoas tendem a adotar uma mentalidade de vítima. Não é incomum uma pessoa se sentir ameaçada de morte só porque alguém não responde ao seu cumprimento. Algumas pessoas não conseguem se integrar a conversas de grupo, sentindo que estão sendo excluídas, e eventualmente optam por se afastar e permanecer isoladas. Mesmo que essa escolha tenha sido feita voluntariamente, muitas vezes essas pessoas ficam irritadas porque ninguém se aproximou para perguntar o motivo ou convidá-las a participar. Se o leitor for mulher, provavelmente entenderá o tipo de pessoa ao qual estou me referindo. Se você é homem e não compreende completamente, sugiro perguntar a uma amiga próxima. Mulheres frequentemente conhecem alguém que se encaixa no perfil de sofredora e vítima coitada.

Quando se trata de casos de bullying, é essencial investigar os fatos minuciosamente.

Casos de bullying que tive de lidar, como parte do RH:

Primeiramente, alguns casos em que o bullying só existia na cabeça da vítima.

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CASO 1  O funcionário A foi lavar seus uniformes da fábrica. Usou a máquina de lavar da fábrica e deixou ali batendo enquanto trabalhava. Uma hora depois voltou pra pegar a sua roupa e viu que a máquina já estava parada e seu uniforme despedaçado. Alguém tinha cortado em pedaços. 

Neste caso o que aconteceu foi o seguinte. O "uniforme" que foi brutalmente esfaqueado, era uma capa de plástico que se usa em dias de chuva ou trabalhos  que se utiliza água. O que acontece quando coloca material plástico, igual a essas capas de chuva pra bater na máquina? 
Teve sorte de não quebrar a máquina.
Esse tipo de material dentro da máquina de lavar roupa despedaça toda, entope, e tudo mais. 


CASO 2 Só me mandam fazer trabalho pesado, eu tenho que fazer trabalho de todo mundo, e quando eu falo as pessoas não me escutam e me ignoram.

Essa reclamação veio de um líder de grupo.
Pode até ser bullying ou assédio, mas não podíamos deixar um líder que não mostra liderança no cargo de líder, recebendo extras como líder, sendo que não consegue liderar. 


CASO 3 Falei bom dia e a pessoa não me respondeu.

Sinto muito. Só isso que tive pra dizer. 
Só posso obrigar se o "bom dia", faz parte do trabalho necessário. 
É importante cumprimentar as pessoas, faz parte. Mas se não está previsto em nenhuma regra, não posso fazer nada.


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Agora, casos em que a foi verificadobullying. 

CASO 1 Ter seu armário sempre saqueado. 

Este é um caso muito recorrente.
Neste caso o "armário" em questão fica onde as pessoas se trocam, logo não vai ter câmera de vigilância. E pode acontecer com homens e mulheres. Não só saqueamento, mas ter seus bens cortados, ou estragados, até roubados. E nem adianta reclamar porque nunca vai conseguir provar.
Vai chamar a polícia pra apurar problemas que não dá pra provar? 

O que precisa ser feito é reportar ao supervisor do setor e pedir que coloque cadeado no armário.
MAS, mesmo com cadeado, já ví casos em que quebraram o cadeado ou quebraram onde se põe o cadeado para não colocar o cadeado.... Tem de tudo nesse mundo. 

O que precisa fazer por conta é: NÃO TRAZER PERTENCES DE VALOR PARA O TRABALHO.
Traz uns 500 yens de moeda e só.
Meu pai por exemplo não levava nem celular na fábrica, e o pertence maior que ele carregava era a cueca dele pois usava o furô da fábrica, em saquinho plástico. 

Mulheres tendem a carregar a vida inteira para sair de casa, mas se vai trabalhar como operária em uma fábrica, ou de secretária que não sai do ambiente de trabalho, única coisa que precisa é a chave da casa.

E sempre reporte o que está acontecendo para o seu chefe e colegas de trabalho ao redor. Anote no papel! Não guarde para si. O maior medo nesses casos é quando colocam, por exemplo, carteira de uma outra pessoa no seu armário para te fazer de ladrão. Tenha armários cadeados.


CASO 2 Ninguém fala com a pessoa, em nenhuma língua, sinal de mão, escrita ou sinal de fumaça. E isso está atrapalhando o trabalho pois deixa a pessoa sem saber qual serviço fazer. 

Acontece isso quando o local de trabalho tem esse ar de mestre, é o chamado "shokunin". Ocorre quando é um trabalho que requer experiência e habilidade, como por exemplo soldagem. O "mestre" sempre tem uma personalidade difícil de lhe dar, e prefere trabalhar sozinho. Logo não tem intensão de ensinar o trabalho para ninguém apesar de saber muito bem da importância de passar a sua arte a geração mais nova.

Fora casos assim, é bullying.

O serviço em si sendo cotidiano não tem muito problema em não receber ordens. Mas ficar num ambiente onde você não sabe se tá fazendo certo ou errado porque todos te tratam como fantasma é muito cruel. E causa prejuízo. Funcionários são contratados para trabalhar e criar lucro, não para contratar por contratar.

Precisa conversar sobre isso com o supervisor ou líder, ou alguém da empresa que fale com você para te mudar de setor ou te dar indicações do que deve ser feito.


CASO 3 Tem um funcionário/ líder/ chefe que grita com você. Toda a hora. Briga e chama a sua atenção mesmo que esteja fazendo o que você foi mandado a fazer. 

Dentro de uma fábrica seja até um pouco difícil. Mas nessas ocasiões o que livros sobre assédio moral indica é GRAVAR A CONVERSA. Existe gravador em miniatura que cabe em qualquer bolso hoje em dia. E é claro que seria exagero da sua parte, até conduta de má-fé, gravar um berro por você fazer coisa errada ou perigosa. Logo, se grava uma só berraria, ninguém vai dar moral para o seu problema e você vai ser o causador de confusão.
Grave por uma semana consecutivo, ou até um mês.
Converse com seu supervisor ou se o problema for com o supervisor, o supervisor dele. Alguém que seja o responsável por cuidar de Recursos Humanos (Jinji), fale sobre o seu problema e diga que gravou a conversa também.


CASO 3 Tem um funcionário/ líder/ chefe que grita com você.... que é o shain e você haken. 

Ou que seja de outra empresa.
Tem que conversar sobre isso com seu supervisor direto ou seu Kanri-sha, o cara que te apresentou e te colocou nesse setor, da empresa onde sai o seu salário.
Nesse caso é muito delicado. Não tem como reclamar para a empresa a qual ele pertence, passando por cima da liderança da empresa, a qual você pertence. É questão de etiqueta e bons modos. O kanri-sha vai saber o que fazer.

Não soube? 
Poderia falar com o pessoal da administração da empresa, escalar até chegar no dono, se não, na inspetoria.



Assédio moral VS Ijime

Assédio moral é quando um superior de cargo a seu te assedia sem motivo algum.
Chamar de idiota. Exigir que faça horas extras. Gritar e te deixar em situação constrangedora. Exigir que faça algo que não seja do seu trabalho e que não seja considerado um trabalho (por exemplo ter de ir beber depois do expediente). Falar mal da pessoa em algo que manche sua imagem. Não chamar para uma reunião que deveria participar de propósito.  ETC.

Isso no Brasil.

No Japão,

Dizer ou fazer coisas ligadas a sexo ->  Assedio sexual - Seku Hara
Usar o status de chefe para atingir um funcionário de cargo inferior -> Assedio de poder - Pawa Hara
Outros (Ijime) -> Assedio Moral - Mora Hara

Mas convenhamos, é tudo a mesma coisa.
Mas a palavra "Ijime", é um termo mais utilizada nas escolas.
No ambiente de trabalho é Assédio.

De uma forma ou outra é um ato que não condiz com o trabalho, e não cria lucro a não ser prejuízo.



O que fazer se não aguentar mais


Peça para sair.

Vai sair perdendo? Não vai. 
Quem perde é quem não te deu valor. 

Eu sei que é difícil achar um trabalho, mas, o que um ambiente tóxico vai te acrescentar? 

Ir buscar ajuda no Kantoku Sho (promotoria de trabalho daqui), é de graça. Muitas vezes o Kantoku sho só vai escutar seus problemas como um terapeuta escutaria. Um advogado ajudaria mais.

Antes de pedir demissão, converse com colegas de trabalho que tem afinidade, converse com o seu superior de cargo, converse com quem cuida de recursos humanos, departamento pessoal, ou o dono da empresa se for pequena.

Não peça demissão calado não. Diga qual é o problema e quão sério está sendo o problema. Mesmo que você decida se demitir sem chance para pensar duas vezes, deixe bem claro o que aconteceu.

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Sempre tenha em mente que oferta de trabalho não vai faltar.
O trabalhador sempre vai ser substituível. Sempre. 
Mas a sua saúde, sua felicidade não tem substituição.

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